No final da série “Os Sopranos” a psiquiatra da personagem Anthony Soprano, começa a questionar o seu trabalho com este chefe da Máfia. Ela corre riscos ao tratar os ataques de ansiedade dele, certamente acreditando que estará a fazer bem. Por um lado, é uma profissional que não deve recusar um paciente, por outro lado, quem sabe, ao tratar um poderoso mafioso poderá a estar prestar serviço público - Criminoso equilibrado não dá logo tiro nos cornos, corta só um dedo ou dois e ainda dá a escolher.
A Dra. Jennifer Melfi tem um baque ao ler um estudo que concluiu que a psicoterapia só legitima o psicopata, ou seja, o criminoso.
Imaginemos o mafioso a ir ás sessões de psicologia, acabando por se convencer que é mas é uma vítima do sistema, da sua educação, do meio cultural em que cresceu. Aí tem a redenção para toda a miséria que espalhou. Se calhar nunca pensou bem no assunto, mas agora que pensa, consegue se perdoar de todas as pessoas a quem limpou o sebo, de todos os dedos que cortou, todos os dentes que partiu, etc. É um coitado que nunca foi convenientemente amado.
Eu vou mais longe: pela minha experiência, do que eu conheci profissionalmente e pessoalmente, das pessoas que eu conheci que frequentaram psicologia clínica, a psicologia serve para legitimar TODA A GENTE. (e não costumo escrever em letras grandes).
O Besta egoísta, irresponsável e agressivo sai de lá reforçado, a pensar em como nunca recebeu a atenção que devia dos papás. A Pateta egocêntrica, insegura, sem os mínimos valores, sai de lá convencida que tem valor e deveria era fazer uns bons cursos de desenvolvimento pessoal.
A psicologia vai ajudá-lo a sublimar-se. Não vai ajudá-lo a ver a realidade como ela é, mas vai tentar fazer o que faz a IURD e a psicologia popular brasileira: levantar-lhe o astral, ensina-lo a pensar positivo. Fixe, também é preciso, o que o que acontece é que esse efeito vai durar só dias e depois tudo vai voltar ao mesmo. Você vai continuar a ser a mesma pessoa, com os mesmos problemas, com as mesmas limitações, com os mesmos defeitos.
A melhor maneira de ganhar um cliente é fazê-lo sentir-se bem. Já ouvi de psicólogas que disseram coisas como “você é melhor que a sua ex-mulher”. Xau! Com este elogio como é que eu não iria gostar desta psicóloga? Pese embora, ela esteja a falar de uma pessoa que desconhece absolutamente.
Para mim, o principal objectivo da psicologia não é aumentar a auto-estima a qualquer custo. O principal objectivo da psicologia deve ser aumentar o auto-conhecimento. E acredito que isso leve, consequentemente, a uma maior auto-estima. Mas esta é uma maneira mais difícil e dolorosa.
Porque eu acredito que não há nada que nos torne mais especiais do que a verdade, a autenticidade - nós sermos nós próprios. E para aprendermos a sermos nós próprios, temos que nos conhecer. Como alguém artificial pode ser especial se é uma imitação de algo, de ideias, modas e clichés?
Eu tenho um odio visceral a psicologos.
No entanto dou por mim muitas vezes a ter um lado de "psicologa" muito activo nesse sentido que ai mencionas. Arranjar alibis ou handy caps para as acções dos outros.
Sempre que há uma situação onde não agem bem comigo (refiro-me exclusivamente a alguém proximo, relação, amigo ou familiar) tenho tendencia activar o tal processo de auto conhecimento mal passa a fase e de me sentir realmente ofendida e zangada com o que me disseram/fizeram.
Analiso tudo o que disse ou não disse, fiz ou não fiz. Mesmo que a minha acção tenha sido espoletada por reacção consigo facilmente chegar à brilhante conclusão de que a 2º acção do outro sujeito pode ter sido provocada e justificada com a minha anterior reacção à acção. Quem descobre este meu ponto fraco consegue manipular-me com uma grande pinta, à grande e à Francesa.
Uma pessoa que age inicialmente de forma correcta e depois se torna uma besta só pode ter uma mudança tão brusca por culpa minha, é sempre a conclusao inconsciente a que chego, embora o racional me diga que a pessoa não mudou, está só a mostrar-se como é quando tira a capa e que eu me devia focar em melhorar as minhas reacções em vez de estar a usa.las para justificar comportamentos alheios....
Um Psicologo diria que funciono assim porque a minha mãe sempre me fez sentir culpada e sempre insistiu tanto que acabei por inconscientemente acreditar que isso é verdade. Mas não preciso que um psicologo me diga isso e me faça sentir imensamente melhor porque afinal ate n tenho culpa. Explica-me porque o faço.
Porreiro, mas giro giro era explicar como deixar de fazer.....
Não tenho paciencia para psicologos. Fazem o mesmo que eu, analizam à exaustão os motivos, desculpabilizam as acções e não alteram em nada o problema.
De
antiego a 9 de Fevereiro de 2011 às 10:21
Ui, não percebi "Mesmo que a minha acção tenha sido espoletada por reacção consigo facilmente chegar à brilhante conclusão de que a 2º acção do outro sujeito pode ter sido provocada e justificada com a minha anterior reacção à acção".
Precisava de um exemplo concreto.
por exemplo....tu apontas-me uma arma e eu reajo dando-te uma joelhada no abono de familia. Furioso, atiras.
A minha acção foi a joelhada que veio por reacção a estares a apontar-me uma arma, o tiro foi a tua 2ª acção em resposta à minha reacção.
Resumindo, neste exemplo idiota apesar de ter levado um tiro haveria grandes probabilidades de acabar a pedir-te desculpa por depois de analisar a situação chegar à conclusão que a causa fui eu ao dar a joelhada...e desvalorizando a verdadeira mola da situação: a arma apontada.
De
antiego a 28 de Fevereiro de 2011 às 10:33
Posso-me tentar identificar pensando que também tens um lado perfecionista. Daí te centrares nos teus defeitos e tentares te melhor.
Eu tenho o hábito de me penetenciar muito quando faço algo de errado. A politica é: se eu me der o suficiente na pinha isto não volta a acontecer.
Mas entretanto também já aprendi a me desculpar mais. Isso até foi um amigo meu que me chamou a atenção de um modo veemente:
- Alto Aí !! Tu tens o direito de errar.
E ainda mais quando foste provocada, quando tens desculpas desse calibre.
Às vezes penso que mais vale a pena nem falar com as pessoas. Ficar por aqui com a familia. É por isso que as pessoas eram muito amigas, casam-se e nunca mais se falam...
Sim, é mesmo isso, sou muito exigente comigo, abuso na introspecção, culpabilizo-me com facilidade e penetencio-me. Sou exigente também com os outros em primeira analise, mas mal eu cometa o mais ligeiro erro transfiro para mim a responsabilidade de TUDO na situção em causa desculpabilizando a outra parte.
Sei que tenho o direito de errar mas justifico os erros dos outros com os meus. Se eu não tivesse feito a pessoa teria sido correcta...acabo a sentir-me responsavel pelos meus actos e pelos dos outros.E mal erro desvalorizo o facto de que regra geral só o faço por reacção. Depois perco tempo e energia a tentar justificar-me e compor a situação. É um bocado doentio...
Ter consciência às vezes é um fardo! Assim como o são as aspirações a perfeição! Os que não as têm não perdem tempo e energia a sentir-se culpados nem a desculpar-nos a nós... :)
Ás vezes tb penso que não vale a pena falar com as pessoas, mas depois passa-me, entendo-me com outros como eu, e ainda vão havendo alguns.
De
antiego a 28 de Fevereiro de 2011 às 15:49
Ter consciência pode ser um fardo se ela for madrasta.
Comentar post