"Espicaçar as consciências adormecidas"

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Segunda-feira, 19 de Outubro de 2009

Eu, Insensivel...

            Confesso que me sinto um grande insensivel ao pé de toda a gente. Ele á a quimica, a adrenalina, o figado… não sinto nada disto.

            Há uns anos atrás, por volta do ano 1994, começou a ser moda a adrenalina. O pessoal começou a sentir a adrenalina a torto e a direito.

- Ei pá, a adrenalina… gosto de sentir adrenalina…

            Só dava para dizer:

- Sorry, I don’t feel the same.

            Ou seja, mas eu sou um raio de um amorfo ou quê? Para quando a minha primeira experiência com a adrenalina? Não sinto nada disso. Será que o meu organismo tem alguma insuficiência? Será que devo consultar um médico, fazer análises ao sangue?

            Também se começou a falar muito das hormonas. Eu até suspeitava de quando estava com mais cio, mas não sentia as hormonas a correrem pelo meu corpo.

 

            A Quimica apareceu antes da adrenalina, acho eu.

- Desculpa, é uma questão de quimica, e não há.

            Bolas, ser rejetiado desta maneira parece uma coisa um bocado imbecil. Já agora, podia responder:

- Que engraçado, eu também não. Não sinto quimica nenhuma por ti. Zero. Niente. Sinto tesão, apetece-me dar-te uma traulitada, mas quimica… não. O que é isso?

            Aliás, esta história da quimica tem as costas largas. Quando uma pessoa não cumpre os nossos minimos de beleza e boazeça, arruma-se a questão e é politicamente correcto dizer que não há quimica. Em vez de dizer

- És feia como ó caraças, não me dás tusa nenhuma.

            Alguém facilitou o meu trabalho e teve compaixão pelos menos adaptados, criando o conceito da quimica.

- Eu até queria. Mas não há quimica. O meu corpo não segrega. Que queres que te faça?

 

            Uma vez fiquei a cismar com o meu figado. Um colega meu dizia que beber um sumo de laaranja era um autêntico bombardeamento ao figado e até lhe custava quando me via a beber um. E chegou mesmo a afirmar:

- Bolas meu, até sinto o meu figado….

            E eu não sentia nada. Será que o meu figado está a ser cortado em postas e eu não sinto sequer uma aziazita? Mas isto é mau, muito mau! Daqui a bocado estou a apanhar no cú e nem noto.

 

            Fármacos. Poucos farmácos tiveram efeitos em mim, e experimentei vários. Uma vez fui fazer uma endoscopia (à qual eu chamo o exame gargante funda) e tinha que tomar uma pastilha anestesiante. Avisaram-me que aquilo era dose. Realmente, na sala de espera estava lá uma gaja com uma paulada que teve de ser ajudada para ir até à sala do exame. Não se conseguia pôr de pé. Eu fiquei à espera que aquilo batesse, mas nada. Absolutamente nada. Já pareço o pardal na anedota dos abutres:

- Então, está a bater ou quê?

- Eu não sinto nada.

           

            Yoga. Já andava há uns bons meses no Yoga, quando a professora e as minha colegas me perguntam se eu já me sinto melhor, se me sinto diferente. Não. Nada. Gosto apenas de praticar. Bolas, era suposto sentir alguma coisa?

            Uma amiga minha descansou-me contando que também tinha andado no yoga e não sentia nada. As colegas dela eram grande entusiastas, e ela passava por ali apática (por sinal uma amiga minha com um extraordiário sentido de humor, e uma boa disposição). Anda por aí muita tesão de mijo?

 

            O cúmulo destas sensações e aqui eu já dúvido, é aquela personagem no filme do Spike Lee “She Hate me”, que sente o preciso momento em que se dá a fecundação do óvulo pelo espermatozoide.

            Também, fantástico foi num concerto de dois palestinianos, um virar-se para a plateia e dizer uma coisa como estas:

- Eu consigo sentir o coração de cada um de vós.

 

            Gente como eu nunca irá sentir um chamamento de deus, uma aparição, uma premonição, uma visão, uma epifania sequer. Nada.

            Depois dizem que este mundo está muito materialista.

 

 

publicado por antiego às 16:32
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9 comentários:
De tou anónima, não me chamo helena a 19 de Outubro de 2009 às 21:37
A história da quimica até pode ter as costas largas. Pode até ser uma boa desculpa para despachar um ogre. Mas não deixa de ser algo que existe só porque a usem como desculpa quando dá jeito.

Podes-lhe chamar tesão, atracção ou...quimica. O nome não é importante.

O certo é há pessoas por quem não se sente a tal tesão nem que tenham um aspecto de capa de revista. Enchem a vista e tal, gosta-se de olhar mas não há aquela vontade irresistivel de lhes tocar e ser tocado. Enquanto isso pode acontecer com alguém com pouco interesse visual.

Haverá montes de factores que influenciam essa tesão/quimica. Agora que ela acontece, acontece...ou não.

E se é uma boa razão para não haver nada? Parece-me legitimo. Não posso ter um relacionamento intimo com alguém a quem não me apetece tocar. É capaz de não funcionar....

Se também há muito quem use isso como uma boa desculpa? Sim, há. Aos montes. Mas isso é como tudo. Só porque há muita gente (a maior parte, diga-se em abono da verdade) que prefira dizer a alguém "Não há quimica" em vez de "és feio como uma bota da tropa e por isso não quero nada contigo", não quer dizer que não existam realmente situações em que isso seja uma verdade!
Quando não sinto tesão por um gajo podre de bom, que até é interessante é porquê?

Um dos factores principais na atrcção e repulsa sexual de qualquer espécie é o cheiro. E não me refiro a falta de higiene...o cheiro da pele que é como uma impressão digital, cada um tem o seu. E sim, pode ser repulsivo ou atractivo.
E outros há, factores quimicos do proprio organismo...logo quimica, que impedem que aconteça a tesão.
De antiego a 19 de Outubro de 2009 às 22:40
Muito bem argumentado, sim senhor,
De tou anónima, não me chamo helena a 20 de Outubro de 2009 às 01:36
Obrigada!

O resto do teu post subscrevo. E então a parte do yoga! Vão a duas aulas e já vibram a um nivel mais alto, flutuam. Sentem coisas. Só falta o "I can see (fell) dead people".

Eu agora também estou a sentir uma coisa.
Passou-me um arrepio pela espinha abaixo.
Acho que é frio. Tenho de ir fechar a janela da varanda.
De antiego a 20 de Outubro de 2009 às 10:50
Sim, eu deconfio que anda por aí muita malta a ter sensações a mais. É tudo uma questão de predisposição. È tudo uma questão de acreditar, ter fé.
De tou anónima, não me chamo helena a 20 de Outubro de 2009 às 14:02
A ´fé dava um bom post...
De Dolores a 29 de Outubro de 2009 às 22:57
llllllllllllllllllllllllooooooooooooooooollllllllllllllllllllllll
Desculpem, mas não tenho palavras para esta.
Quer dizer... na verdade tenho um pensamento para partilhar:
Isto é hilariante.
Pelo menos senti qual quer coisa, involuntariamente, é claro, mas muito agradável.
De antiego a 29 de Outubro de 2009 às 23:19
Pelos vistos tu também sentes alguma coisa.
De Canalizadores a 31 de Outubro de 2009 às 23:01
Gostei do Blog!
Vou voltar mais vezes... Parabéns pelo destaque!
De antiego a 31 de Outubro de 2009 às 23:09
Obrigado. Vou ver o vosso.

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