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Hoje ouvia na Antena 3, no programa Linha Avançada, que Mourinho, treinador do Inter que vai jogar à casa do seu ex-clube, o Chelsea, referiu:
- Espero que a tradição valha alguma coisa, eu nunca perdi em Stanford Bridge.
Stanford Bridge é o estádio do Chelsea. Ao que apresentador do programa comentou:
- Sim, mas, nunca perdeu… quando era lá treinador.
Ora aí está, essa é que era a piada. Está uma piada muito bem metida e demonstra, mais uma vez, o enorme ego do Mourinho. Uma das coisas que resulta muito bem no sentido do humor é o humor egocêntrico. O Herman José usava-o até à exaustão. È quando na brincadeira dizemos que somos os maiores, os mais potentes, os mais inteligentes… deus é o limite. Já os Gato Fedorento usam o humor do ego, mas na forma depreciativa: nós não sabemos nada, isto vai ser um desastre, nós até nem temos piada nenhuma. É também um comportamento defensiva. A fofura do humor egocêntrico é remeter-nos para a infãncia, a sua candura e graça.
A presunção não cai bem, mas na comédia, surte grande efeito.
Eu gosto do programa Linha Avançada, do seu apresentador, tem graça. E este comentário nem é assim tão descabido. Serve para informar o ouvinte que Mourinho nunca perdeu sim naquele estádio, mas nunca como equipa adversária do Chelsea.
No entanto fez-me lembrar quantas vezes eu digo uma piada e sou levado a sério. Faço um comentário jocoso, ao estilo de humor a que eu chamo Naive, e as pessoas respondem-me como se eu estivesse a falar a sério. Xiça. Faço uma pergunta irónica que não requer resposta (retórica), e voilá, respondem-me.
Não vale o argumento de as pessoas não saberem se estou a falar a sério ou a brincar, é óbvio que falo a brincar e geralmente essas pessoas têm um grande sentido de humor.
A minha explicação é apenas esta: essas pessoas adoram falar, falar, falar. Têm sempre que dizer qualquer coisa, seja o que fôr. E pronto, o mais fácil é o comentário sério.
Certa vez estava no ginásio e vi uma mulher com um ar muito simático a usar o espaldar. Achei interessante e pedi-lhe indicações para fazer exercicios lá. Pendurei-me com os braços, esticando a coluna, e referi que este exercicio seria bom para crescer. Ao que ela me respondeu a sorrir:
- Ah, acho que na sua idade já não dá.
De facto, eu já tinha mais de 30 anos. A única desculpa que eu arranjo para este tipo de comportamento insosso é o de esta gente ter uma ténue suspeita de que o palhaço estará mesmo a falar a sério. E daí dizem a verdade para não alimentar a sua ilusão, para o seu bem.
Mas, mais uma vez, acham bem matar uma ilusão destas assim? Será que eu não iria descobrir por mim próprio que depois dos 30 é muito dificel de crescer?
Isto é gente má, atrás de um sorriso angélico.