. Video-Vigilãncia anti-Bul...
O Director de turma disse aquela frase que eu nunca me esqueci, para descrever comportamentos infantis e juvenis:
- Basta 1 ou 2 desordeiros para desestabilizar uma turma inteira.
Estava obviamente a falar sobretudo do Júlio, meu colega de turma do 7º ao 9º ano. O Júlio era o jabardo mete-nojo da turma. Acho que ele era sobretudo um rapaz vivaço e divertido, que não devia gostar muito de estudar. O Júlio era alto, bastante gordo. O engraçado é que também era medricas. Embora fosse enorme e corpulento, se um pequenito com metade da sua massa ameaçasse porrada, ele acobardava-se.
Das piadas mais estúpidas que tinha era assobiar estridentemente junto do ouvido dos colegas. Eu tenho uma vaga lembrança que aquilo deixava um gajo a bater mal durante uns bons segundos. Acho que deixavamos mesmo de ouvir.
O gajo era um jabardo. Mas, um dia, ele livrou-me de uma boa.
Eu era o menino bonito das professoras de matemática. E era o menino bonito da professora de Fisico-Quimica do 8º ano que me tinha em grande conta, porque eu era irmão de 2 ex-alunos exemplares que ela tinha adorado ter. Eu vinha com esse herança e correspondia à reputação dos meus irmãos mais velhos.
Certa vez numa aula, deu-me para fazer uma graça. Tirei algo de alguém e passei para trás. A professora acabou por saber desse desaparecimento e foi intransigente em saber quem tinha encetado aquela brincadeira. Nunca ninguém se descosia. O Júlio foi o ultimo a ter essa peça desaparecida. E ela pressionou-o ao máximo para ele bufar quem teria sido o engraçado.
O Júlio manteve-se leal, explicou muito bem e peremptoriamente que não ía delatar um colega, embora soubesse quem tinha sido.
Não seria de grande satisfação o mau aluno e jabardo da turma denunciar o menino dos olhos bonitos, bem comportado? Seria um dia de vitória!
Sim senhor, o Júlio manteve-se integro e um bom camarada.
Isto para dizer que, os jabardos do meu tempo, nos anos 80, era apenas uns porreiraços. Os jabardos eram gajos que em termos de maturidade estavam vários anos à frente dos outros colegas. Até parecia que:
- Senão és um gajo baril, irreverente, vivaço e maduro, só te resta seres um tótó bom estudante.
Ou seja, só não te portas mal porque és uma mosca-morta.
O Júlio é um exemplo. Lembro-me de no 7º ano ter-me envolvido numa pequena bulha com um colega. E lembro-me muito bem do galã da turma ter recriminado a minha estupidez. Ou seja, um gajo era reprovado socialmente por se ter envolvido numa luta, independentemente das razões. Só o facto de ter feito guerra, era lamentável. Deviamos ainda a estar a viver os efeitos do “Make Love, Nor War”.
Lembro-me de no 2º ano do ciclo ter tido uma atitude que me poderia ter valido um arraial de porrada. Estava a jogar à bola com os colegas do meu amigo que tinha repetido o 1º ano. A certa altura tive um ataque de raiva, não me lembro bem porquê. Peguei na bola e atirei-a para fora da escola. Eu estava a pedi-las. O responsável pela bola (talvez um repetente também) era muito mais forte que eu e eu tinha medo dele.
O que ele fez? Com 11 anos, veio falar comigo. Convenceu-me a ir recuperar a bola e até me ajudou. Teve uma conversa comigo do tipo: gajo mais maduro a acalmar o jovem e ensina-lo que não deve ter aqueles comportamentos porque só o vão prejudicar a ele.
Estes eram os rapazes maus do meu tempo.
No dia 10 Março tinha começado a escrever a ideia de ter cameras de vigilancia nas escolas. Isto sem saber que a maior parte delas já tem, como li no jornal há dias. E mais, dentro de poucos anos, todas as escolas estarão apetrechadas deste sistema de segurança.
Congratulo-me por esse facto e insisto na necessidade de colocarem cameras de vigilancia em locais públicos para dar maior segurança à população.
Enquanto defendia a existência de multiplas cameras de segurança, informavam-me que a Inglaterra investiu milhões e milhões em cameras por todo o país e viu pouco resultados. Entretanto um colega meu contrapôs: O ultimo atentado terrorista em solo britanico foi desmantelado graças a cameras de vigilancia. Há dúvidas? Só há se esta ultima afirmação não fôr verdadeira.
Aliás, eu pergunto como se avalia a eficácia de cameras de vigilancia? Pela estatistica de crimes? Ora bem, no ano passado houve 45 mil assaltos, este ano, gastos 100 milhoes de libras em cameras, houve 44.900 crimes. Hmmm, 100 milhoes de libras deu... um milhão de libras por cada crime. Bem, eu tenho fé que os gajos que estudam estes problemas saibam o que estão a fazer, mas... depois de muitos estudos idiotas que eu já li na imprensa, não sei não.
O que eu acho é que para muita gente as cameras não terão um efeito dissuador. Nem as cameras, nem o facto de saberem que existem prisões, nem o facto de saberem que existe, nos seus países, a pena de morte. Aliás, o criminoso passional não pára a meio e começa a fazer contas sobre o risco que corre em morrer com uma injecção letal.
Para mim basta saber que iria prejudicar o próximo, haverá uma faixa de pessoas para quem as cameras serão um elemento dissuador, ou quanto mais serão um elemento de registo de crime.
Escrito a 10 de Março:
"Uma das medidas anti-Bullying seria usar cameras dentro da escola, para vigiar as crianças. Mais eficaz que isto, é a vigilãncia do pessoal. As cameras seriam apenas um auxiliar. A Escola tem que garantir que as crianças estão seguras dentro dela."
É evidente que a escola tem que ser responsabilizada pelo que se passa lá dentro.