Não acho que alguma vez eu tenha sido vitima de mentiras conscientes. As mentiras que disseram sobre mim, partiram de erros de interpretação. Os mentirosos estavam convencidos do que diziam, pese embora a sua interpretação estivesse tolhida por sentimentos mesquinhos. Ou seja, não tenho conhecimento que tenham mentido sobre mim com pura má fé, de maneira consciente.
Quanto a mim, sou um péssimo mentiroso. Uma vez afirmei que era um verdadeiro compulsivo. Por um lado digo isto orgulhosamente. Por outro lado sinto-me um atrasado mental por não ter habilidade em mentir. Tenho extrema prequiça mental em mentir. Como um dia dizia o António Feio e o José Pedro Gomes, mentir dá imenso trabalho. Ao contrário deles, sou péssimo a representar.
Quando vejo o Carlos Cruz na televisão a defender a sua inocência de abuso de menores, aquilo não me cheira. O homem não é convincente. Mas que raio, o homem não era actor de telenovela mas era um apresentador de televisão.
Quando ele foi acusado (julgo que em 1983), lembro-me muito bem quando o vi na televisão. Numa mini-entrevista, provavelmente num telejornal, em que chorava com esta injustiça. Quando o vi nessa figura, com as suas palavras, com a sua expressão, pensei imediatamente
Bolas, é culpado.
Ou seja, eu aposto que o homem é culpado. Quem aparece daquela maneira na televisão e chora daquela maneira, a justificar-se, está com a consciência a acusar. Isto é como aqueles burlões que usam um discurso do género:
- Atenção, isto não é burla nenhuma, isto é um negócio sério. Andam por aí muitos aldrabões, mas eu não sou aldrabão!
Ainda bem que me avisa porque nem sequer me passou isso pela cabeça.
Não sou omnisciente, e por isso dou 5% de dúvida à culpabilidade de Carlos Cruz e dos outros condenados. Das declarações que vi ontem, só uma me deixou na dúvida. Um dos condenados dizia, em jeito de dor serena:
Mesmo que tivesse sido absolvido, serei sempre conhecido como o homem que abusou de determinada pessoa.
Não quero condenar o que desconheço e reconheço que a justiça portuguesa fica mais super bem vista com a condenação, neste caso da Casa Pia, do que ficaria se absolvessem toda a gente. Lá estariamos todos nós a dizer:
- Pois, é o país da impunidade. A culpa morreu pela infinitésima vez solteira, os tubarões safam-se sempre.
Colocando-me no lugar de um condenado injustamente no caso Casa Pia, como reagiria eu? É fácil falar quando se está de for a, mas faço esse exercicio de imaginação.
Chegam uns 10 jovens, que eu nunca vi, e dizem que eu abusei deles num lugar onde nunca estive. É caso para exclamar, esquecendo toda a educação:
- Foda-se !!!!!!!!!! Estes gajos andavam a tomar LSD quando viam o 1, 2, 3 ????
Para isto tudo bater certo, realmente para eu praticar actos que nunca cometi em lugares em que nunca estive, só mesmo com pessoas que eu nunca vi, ou pessoas que nunca existiram. Estes acusadores existem mesmo? Eu achar-me-ia na quinta dimensão, ou Twilight Zone.
Explicar esta situação, tem duas saídas:
Não faço a minima ideia do que se está a passar, eu não tenho inimigos, porque raio aparece tanta gente a incriminar-me. Será que me estão a confundir com alguém? E se eu servisse de cristo para encobrir outros, porque raio me escolheriam a mim? Foi tirado à sorte, estavam a ver o 1,2, 3 quando pensavam num nome? Ou será que andei estes anos todos enganado e tenho inimigos?
Eu tenho inimigos. Será que é uma estratégia deles? Quem são eles. Eles estão ligados aos menores abusados.
Porventura os condenados já disseram coisas parecidas com estas, não sei, não os vi.
Poderá ser natural que os acusados, sintam uma injustiça tal, que ganhem raiva aos miúdos da Casa Pia que testemunham contra eles, ao invés de mostrarem alguma simpatia. Mas, não seria elevado, mesmo no banco dos réus, mostrar alguma compaixão pelas vitimas infantis de abusos sexuais? Não seria natural ver, da parte dos réus, repugnancia por este tipo de crime e sentirem-se para lá de chocados em serem acusados desta aberração?
Bonito seria ver um acusado a mostrar compaixão pelas vitimas e pedir publicamente para dizerem a verdade e perguntar porque o acusam a ele.
Do que eu me lembro, após a condenação, há uma coisa que me pareceu que mais que um condenado disse e não soou bem. Quando um condenado do processo Casa Pia alegava a sua inocẽncia, acrescentava que nenhum dos outros 5 condenados também era culpado. Que raio. Mas como podem eles afirmar tal coisa? Que certezas têm eles? Até dá a impressão que estes acusados eram já muito amiguinhos entre si. Dizer que os outros também não são e não o justificar, soa muito mal.
Só vejo aqui uma lógica: estamos unidos contra o inimigo comum: os miúdos. Mas isto é a lógica da peixeirada. Pessoas com a formação destes gajos, apenas poderiam afirmar coisas como:
- Também não acredito que os outros acusados sejam culpados, porque acho que eles estão a mentir em todos os casos, não têm credibilidade.
Dá uma impressão de corporativismo, lobby, de gente que afinal se cruzava naqueles meandros, conhecendo-se assim. Isto leva à frase mais estupida de toda esta telenovela televisiva, quando um certo senhor, em defesa de Carlos Cruz, afirmou publicametne:
- Se Carlos Cruz é pedófilo então eu também sou.
Mas que palhaçada é esta? Que idade tem o homem que proferiu esta idiotice? Quem é que consegue numa só frase incriminar alguém e a si próprio ao mesmo tempo? Não seria mais simples dizer:
- Eu e o Carlos Cruz somos pedófilos e até estamos juntos nas festas.
Ao defender alguém sobre este assunto, o máximo que se poderia dizer acho que seria:
- É impossivel o senhor Carlos Cruz ser pedófilo, já o conheço há 50 anos.
Outro aspecto é o Argumento de Carlos Cruz em que ele foi acusado para encobrir outros tubarões. Ele disse isso porque lhe disseram, sem mais nenhum pormenor, que era o que se estava a passar? Afinal, que conhecimentos tem Carlos Cruz sobre este caso? Carlos Cruz, além da sua inocência, sabe mais sobre a Casa Pia do que sabe a Justiça Portuguesa? Ou seja, gostava de ver Carlos Cruz como testemunha deste caso.
Carlos Cruz é uma pessoa que está completamente a leste da Casa Pia, vivendo um episódio completamente surreal? Ou, até por se ver forçosamente incluído neste processo, por via de uma acusação falsa, foi adquirindo informações sobre este sub-mundo da pedófilia, ao longo destes anos todos?
Se Carlos Cruz sabe quem são os Tubarões que ele próprio está a encobrir, porque não põe a boca no trombone? Será que está com medo que lhe ponham em cima processos de difamação? Acha que há coisas piores do que ser condenado por fazer sofrer cruelmente crianças ou que as coisas podem sempre piorar?
E se ele teme pela sua familia, e as consequências que a sua filha de 8 anos pode sofrêr (entendi que em termos de imagem, de sociedade), que coisas são essas que ele não explicou? Ou será que existe coisa pior para uma criança na escola do que ser chamada de filha de pedófilo?
Ou há muita coisa que a comunicação social omite? Bem, reconheço que à comunicação social interessa que haja culpados.